Ao longo de seis meses, a empresária Vitória Damaceno Bittencourt, 23 anos, contraiu uma dívida de R$160 mil no banco por conta do jogo do tigrinho. No dia em que perdeu R$ 50 mil, ela decidiu contar ao marido sobre o que estava vivendo e pediu ajuda. Desde outubro do ano passado, não usa mais nenhuma plataforma de apostas ou cassinos online. Em junho, ela decidiu que usaria suas redes sociais para contar sua história e alertar outras pessoas que poderiam estar passando pela mesma situação.
Confira o relato dela
"Descobri o jogo do tigrinho através de influenciadores, em maio de 2023. Eles postavam bastante que estavam ganhando e você acaba tendo curiosidade. Você quer saber como é, como funciona. Por isso, comecei a jogar e ainda fazia apostas pequenas, de R$ 30, R$ 40. Com o decorrer do tempo, fui aumentando porque os influenciadores ficavam postando que estavam ganhando muito. E era muita gente na época.
Teve uma vez que fiz um depósito de R$ 80 e ganhei R$ 800. Na época, eu era motorista por aplicativo e, para ganhar R$ 150, era o dia inteiro. Com isso, com poucos cliques eu conseguia ganhar. O que era mais fácil? Era mais fácil jogar, na teoria. Eu ganhava e o que acontecia? O jogo te dá para te tomar depois. Ele começa a te pagar, te pagar, te pagar e tem uma hora que ele começa a te tomar. É quando você vicia. Você quer cada vez mais, enquanto o influenciador fica lá postando cada vez que está ganhando mais.
Acredito que passei um mês fazendo apostas pequenas. Depois, fui fazendo apostas mais altas. Comecei a colocar R$ 200, 300, 500… Até que cheguei a colocar mil, dois mil. Já era frequente. As perdas sempre são maiores que os ganhos, mas a gente não percebe. Você faz dois mil e fica todo feliz, mas não vê que já gastou quatro mil.
Eu comecei em maio e parei em outubro, jogando todos os dias. Tinha o hábito de deitar na cama e era meu momento de sossego. Ligava a novela para assistir e ficava jogando até de madrugada. Era meu momento de felicidade. Aquela emoção de ganhar ou perder era uma sensação boa.
Desde então, muitas pessoas vieram pedir ajuda para mim, porque a maioria das pessoas só sabem julgar. Dizem que você joga porque quer. Eu esperava muito julgamento - isso, eu sabia que teria. Mas não imaginei a proporção que isso estava no Brasil. Não imaginei que tinha tanta gente passando por isso. Teve um empresário que mandou mensagem para mim dizendo que perdeu R$ 600 mil. O vício está aí para todo mundo, porque você para de tratar dinheiro como dinheiro. Depois que você está no vício, não é mais sobre ganhar dinheiro. É sobre jogar.
Acredito que alguns influenciadores não sabem o tamanho disso, não sabem o que isso causa para as pessoas. Já outros influenciadores sabem, mas é sobre eles, né? O dinheiro fala mais alto e o outro que se dane. Eles postam com a conta demonstração, que é programada só para ganhar. A pessoa olha e pensa 'vou ganhar também'.
Quando o ano virou, eu já estava em outra vida. Estava determinada em recomeçar a minha vida. Falei que ia me reerguer. Abri minha loja e tive uma virada de chave mesmo. Disse que ia fazer o que sempre fiz, que é trabalho. Além da loja, eu e meu pai temos uma empresa de eventos, então no final de semana fazemos eventos. Ainda não quitei as dívidas, mas estou no processo de quitar.
Sempre tive vontade de contar minha história, mas não tinha coragem. Agora foi o momento que me senti pronta. E a palavra para quem está nisso atualmente é: procure apoio, procure ajuda. O jogo não muda a vida de ninguém, só dos influenciadores. Se as pessoas estão achando que vai mudar a vida delas, não vai. O jogo só muda a vida dos influenciadores. O jogo não vai fazer isso por você. Mas procure uma rede de apoio, porque sair sozinha é muito difícil"

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